Chen Li servia o Mestre há muito tempo ansiando tornar-se seu discípulo. A sua ânsia de aprender tornava-o impaciente e ao mesmo tempo, frustrado por ser apenas o criado do Mestre. Preparava-lhe as refeições, lavava a roupa, limpava a casa e tratava do jardim.
Um dia, á hora da refeição, o Mestre observava os gestos impacientes e descuidados do jovem discípulo que colocava os alimentos á sua frente sem qualquer ordem. Olhando-o profundamente o velho Mestre disse: - Diz-me o que te preocupa, Chen Li... Algo perturba a tua mente há algum tempo. - Estou cansado, Mestre - retorquiu o jovem - estou em vossa casa vai para três anos servindo-o o melhor que sei e continuo a não passar de um criado.
Esboçando um sorriso o Mestre respondeu: - Acho que tens razão. Vou começar a treinar-te, mas para isso tens de estar com a mente repousada. Durante algum tempo não desempenharás qualquer tarefa... apenas repousarás. A única coisa que te peço é que observes atentamente tudo o que se passa á tua volta a todo o momento.
O jovem discípulo ainda tentou questionar o Mestre mas este, erguendo a mão apenas disse:- Promete-me! - Chen Li aquiesceu pensativo.
Os aposentos de Chen Li ficavam afastados dos do Mestre apenas com o jardim da casa entre eles. Chen Li levantou-se pela manhã, cuidou da sua higiene e preparou-se para ir á cozinha do Mestre para lhe servir o pequeno almoço como fazia todos os dias. Saíu dos aposentos e estacou ao olhar o jardim do Mestre - As flores irradiavam frescura e estavam cuidadas com uma mestria que espantou o jovem. Apressadamente Chen Li dirigiu-se para a cozinha mas ao aproximar-se dela percebeu que havia gente lá. Pé ante pé chegou á porta e espreitou lá para dentro. O Mestre preparava a refeição mas o que impressionou Chen Li foi a serenidade com que o fazia. Enquanto cozinhava, o rosto do mestre irradiava felicidade como se a realização daquela pequena tarefa fosse o acto mais importante da sua vida.
Percebendo a presença do seu discípulo o Mestre, sem se voltar disse: - Senta-te Chen Li. Está na hora da nossa refeição. Chen Li sentou-se hesitante observando o modo suave como Mestre se deslocava pela cozinha. A expressão serena mas feliz do velho enquanto dispunha os alimentos no prato impressionava-o. Quando o Mestre colocou o prato á sua frente Chen Li olhava surpreendido a forma como os alimentos estavam dispostos - O arroz e os legumes estavam organizados de tal forma que se via claramente a figura de um pavão de cauda aberta e colorida. Aquilo era uma obra de arte.
Sem saber porquê as lágrimas começaram a rolar-lhe pelas faces. -Porque choras Chen Li? - perguntou o Mestre. - Porque a vergonha é grande, Mestre. Percebo agora o caminho que ainda tenho de percorrer. Toda a arte exige tempo e paciência e eu tenho-me mostrado impaciente. O Mestre pôs toda a sua energia, sabedoria e sensibilidade na confecção deste prato transformando-o numa obra de arte. Estes alimentos nutrem o corpo mas também o espírito. Sei agora que tenho muito que aprender. Mestre... peço-lhe perdão pela minha impertinência.
O rosto do velho mostrou um sorriso amplo de satisfação. Chegando perto de Chen Li pousou-lhe a mão no ombro e disse calmamente: - O teu treino começa amanhã... estás pronto!
