Era uma vez um senhor chamado Smith. Conhecido na cidade onde vivia, Smith era admirado como poucos. A gente da cidade chamava-lhe Smith "o Perfeito" Smith tinha a mágoa de não conseguir conservar amigos. Aqueles que se aproximavam dele, cedo o largavam. O seu feitio sobranceiro e arrogante, o seu ego enorme e o seu "mau-feitio" faziam com que, aqueles que tentavam conviver com ele, se afastassem.
Smith atribuía o problema aqueles que o deixavam - ele era bom para eles mas eles não o reconheciam. Ele sabia mais do que eles mas eles não o reconheciam. Ele avançava com ideias novas e os outros não o seguiam.
A realidade era, afinal, outra. Smith, ocupado em olhar-se ao espelho e admirar-se como "ser superior", não conseguia reconhecer a capacidade dos outros. Ao considerar-se senhor do conhecimento não deixava os outros mostrarem o que sabiam. Ao querer guardar para si todos os créditos das tarefas bem desempenhadas, não deixava os outros evoluir.
Todos os anos Smith organizava uma festa onde todos colaboravam mas que era anunciada como A Festa de Smith - O Perfeito. Todos trabalhavam arduamente na organização contribuindo com trabalho e ideias, mas era a "FESTA DE SMITH".
O tempo passava e Smith "crescia" não com os outros, mas à custa dos outros. Quando precisava deles elogiava-os e elevava as suas capacidades mas individualmente. De uns dizia mal dos outros mas elevava sempre as qualidades daquele com quem falava individualmente. O tempo foi passando e os seus "amigos" começaram e entender que aquela situação não lhes convinha. A falsa amizade que Smith exibia só servia os propósitos do próprio Smith.
Os amigos reuniram-se e acharam ser altura de deixar de dar a Smith o que ele queria - o protagonismo. Cansaram-se de ser desrespeitados e deixaram de conviver com ele.
Smith, magoado, não sabia o que fazer. Numa primeira reacção começou a dizer a todos que tinha sido escorraçado pelos seus amigos mais chegados - aqueles que ele tinha tido no coração - depois, vendo que o seu "choradinho" não tinha tido eco, começou a denegrir a imagem daqueles que o tinham abandonado "à sua sorte".
Ao princípio, as pessoas que o ouviam pensavam para si: - Que ingratos... Smith é um bom homem, trabalhador e amigo e tem ajudado tanta gente, porque é que o abandonam? - mais tarde, estas mesmas pessoas começaram a pensar: Que diabo... Smith não consegue conservar amigos por muito tempo... o que é que se passa?? Toda a gente que priva com ele por mais tempo acaba por deixá-lo. O homem deve ter qualquer coisa de errado!
Aqueles mais ingénuos e influenciáveis continuavam a venerar Smith considerando-o um homem integro e respeitador. Por vezes, inflamados pelo discurso revoltado de Smith e pelas mentiras que este começou a espalhar para denegrir ainda mais a imagem dos que o abandonaram, estes ingénuos personagens começam a tomar o seu partido e a comentarem entre si as "injustiças" que são feitas a Smith, afinal ele era Smith "O Perfeito".
O tempo foi passando e as críticas de Smith começaram a não ser levadas a sério. Os antigos amigos contaram afinal toda a verdade - Smith não era Perfeito... Smith era arrogante, sobranceiro, mentiroso e intriguista. A única pessoa que Smith respeitava era ele próprio. Tendo subido encostado aos amigos, escorraçava-os quando não precisava deles. Smith não era Perfeito.
Toda a cidade começou a não levar a sério os comentários intriguistas de Smith. A sua imagem começava a perder luz. Smith não conseguia perceber. Num momento era um Deus e no outro era uma nulidade.
Na sombra reuniu alguns (poucos) cegos seguidores e, no seu meio convenceu-os a ficarem perto de si comprometendo-se a fazer deles pessoas respeitadas e admiradas por todos. Estes ingénuos seguidores acreditaram nele - afinal ele tinha sido "O Perfeito". Ligeiramente fortalecido com o seu pequeno "exército", Smith volta à carga. Agora ajudado por alguns seguidores, Smith, rancorosamente, tenta de novo destruir aqueles que o tinham abandonado. Novas críticas, novas intrigas e novas mentiras... mas sem resultado. Smith não encontrava eco nas suas palavras. Os que o ouviam acenavam que sim, mas nas suas costas referiam-se a ele como uma pessoa arrogante e falsa. A imagem de Smith era a pior. Reunindo o seu pequeno grupo, Smith recolhe-se na sua casa e passa o tempo todo com eles. Não os que deixar sozinhos... não os pode deixar sozinhos... eles não podem ouvir o que se diz dele nas ruas. Um dia, um dos elementos que o tinham deixado resolve organizar uma festa. Esta festa tinha sido nomeada como "Festa da Cidade". A organização desta festa corria maravilhosamente - todos se entusiasmaram a organizar a festa e todos contribuíram com alguma coisa. Todos foram convidados (afinal era a festa da Cidade), sem excepção.
Smith recebeu em sua casa o seu convite e o dos seus seguidores. Alarmado rasgou de imediato os convites do elementos do seu grupo mas guardou secretamente o seu.
Smith tinha agora uma tarefa difícil - impedir os elementos do seu grupo de tomarem conhecimento da festa - teve uma ideia e pensou para si - "vou organizar um almoço e um jantar em minha homenagem na minha casa mesmo no dia da festa"
Assim fez: falou com os seus seguidores dizendo - Vou organizar um convívio em minha casa em minha homenagem. Vai chamar-se "O Dia de Smith". Conto com a presença de todos vós.
Assim foi. Enquanto a Cidade resplandecia de alegria e felicidade, Smith, fechado em casa com o seu pequeno grupo, com as janelas corridas, "convivia" com os seus amigos. Falando alto para eles discursava sobre os seus planos para engrandecer o seu grupo, as sua ideias inovadoras e a sua influência na vida da Cidade. A meio do dia resolveu servir umas bebidas e, enquanto enchia os copos de todos, disse: - Eu tenho de sair por um momento mas não demoro. Deixo aqui algumas garrafas para beberem à vontade. E saiu. Fechou a porta à chave e foi dar uma espreitadela à Festa da Cidade. Circulou no meio da festa, saudou algumas pessoas e regressou indignado a casa. A Festa estava a correr bem e isto era demais para ele. Não aguentava tanta revolta. Estavam todos divertidos na festa e não tinha sido ele a organizá-la. Tinha de deitar por terra a imagem dos organizadores da festa, mas não sabia como. Guardou para si a revolta e voltou a conviver com o seu pequeno grupo, que a pouco e pouco começava e desinteressar-se da conversa habitual de Smith.
Os elementos que compunham o grupo começaram a perder interesse nas conversas de Smith que, afinal não era o que eles pensavam. Foram-se afastando, dando desculpas para não aparecerem na casa dele. Sem saber como, Smith estava sozinho. Agora sim abandonado. Mesmo constatando que estava totalmente só, Smith, em frente ao espelho de sua casa gritava: - Vão-se todos embora, ingratos. Eu dou-lhes pérolas e vocês transformam-nas em estrume! Desapareçam da minha vista... eu não preciso de vocês eu sou Smith o Perfeito!
E assim foi... ainda hoje Smith, todos os dias se levanta e faz o seu discurso em frente ao espelho. Sozinho. A amargura e o desalento de Smith revoltam-no mas nada pode fazer. A sua arrogância e o desrespeito que mostrou com todos os que com ele conviveram, votaram-no ao abandono e à solidão. A "fama" de SMITH O PERFEITO morrera.
Nota do bloguista:
Todos os factos narrados nesta pequena história são fictícios. Toda e qualquer semelhança com pessoas, locais ou situações é mera coincidência.