Estamos todos cientes da crise económica que assola o País. Estamos todos cientes que é preciso fazer alguns "cortes" e ajudar a levantar a nossa economia. Ao que parece, o nosso Presidente ficou muito "ofendido" por termos sido comparados à Grécia mas a realidade é que, se não estamos iguais, estamos pelo menos muito próximos. No entanto, a ostentação e o desperdício continuam como continua o aumento do número de desempregados.
As empresas (algumas) lutam para sobreviver e manter os seus funcionários e assim, garantirem a sua subsistência. Existe, no entanto, também, algum aproveitamento desta situação: Algumas empresas, ainda que atravessando a crise como todas as outras, continuam a facturar e bem mas transformam a crise num "fantasma" exigindo das pessoas que trabalham mais horas de trabalho. Se em alguns casos isto é compreensível, noutros é uma descarada falta de respeito pelo tempo de vida pessoal e familiar a que todos temos direito. A nossa sanidade mental exige que tenhamos tempo para estarmos com os nossos amigos e familiares ou desenvolvermos uma actividade que nos dê algum prazer.
Agora, aumentam-se os horários de trabalho, criam-se "turnos" despojam-se as pessoas de um bem essencial à sua saúde e bem-estar - em nome da crise.
Não pretendo dizer que a crise não é real, longe disso, o que aqui afirmo é que, a continuarmos assim, as pessoas deixam de ter vida social e familiar. A prática regular de um desporto ou outra actividade que se goste, deixa de ser possível dada a irregularidade dos horários impostos e o desconhecimento total por parte do empregado, do tempo livre que lhe será concedido dependendo da vontade e do estado de espírito do empregador.
O preço a pagar por uma situação prolongada deste tipo é a desmotivação e o desinteresse. Estas são as condições para que a produtividade necessária baixe.
Em conversa com outros instrutores sobre este assunto, todos referimos o facto de, alguns alunos deixarem de ser regulares ao treino porque lhes foi imposta uma nova grelha de horários, onde o tempo livre quase não é contemplado. As empresas querem laborar mais horas mantendo o mesmo pessoal. Não falo aqui de incentivos monetários porque, a meu ver, não é só isso que conta, embora seja essa a "cenoura" que nos acenam ameaçando-nos de não poder comer mais cenouras se não acedermos ao "sacrifício" de trabalhar mais e mais horas.
Tão depressa não saímos da crise - é um facto - mas o preço a pagar por um regime onde se atropelam direitos essenciais a uma vida saudável vai ser muito alto.
Apela-se à prática desportiva no sentido de evitar doenças cardio-vasculares entre outras, aconselha-se uma alimentação equilibrada e adverte-se contra os perigos da obesidade, no entanto, tira-se tempo para a prática desportiva, para se fazer uma refeição como deve ser (em alguns casos tem de se enfiar uma sandes pela boca abaixo rapidamente porque se tem 30 minutos para almoçar) e finalmente digam-me - ao fim de muitas horas de trabalho o que é lhes apetece fazer quando chegam tardiamente a casa? Pois é... enfia-se uma "bucha" pela goela e deixa-se cair o corpo dorido sobre um sofá ou directamente para a cama porque amanhã tem de se estar cedo em pé para mais um dia de trabalho.
Acredito sinceramente que todos temos de trabalhar com o objectivo de nos tirar desta crise e que alguns sacrifícios terão de ser feitos, mas também acredito que os empresários têm de ter alguma preocupação com a saúde física e mental dos seus empregados.
Deixou de se usar o termo "empregado" para se usar o de "colaborador". Este ultimo termo deixa implícita uma "colaboração" o que implica uma relação simbiótica entre o patrão e o empregado (perdão: colaborador). Alguma adaptação aos interesses e necessidades de ambas as partes é que é colaboração. Se houverem algumas concessões haverá, decerto, retribuição. Se um patrão se preocupa com a vida social do seu colaborador este ultimo não tem moral para não o ajudar. Diz o povo "uma mão lava a outra" a verdade é que ambas precisam de sabão...