As crianças têm alguma dificuldade acrescida para lidar com isto porque, na maioria dos casos, são preparadas para o sucesso, tanto pelos pais como pelos instrutores, mas não para o insucesso. É difícil fazer compreender a uma criança que, para alguns ganharem outros têm que perder. Até nós, adultos, nos preparamos melhor para o sucesso do que para o fracasso. Algumas pessoas tendem até a ignorar essa possibilidade porque lhes é muito difícil lidar com isso.
Em tempos ouvi alguém ligado à nossa modalidade dizer a um aluno que "perder não é opção". Dizia este "artista marcial" que só assim conseguia criar o incentivo certo para o sucesso. Não sou psicólogo mas penso que estamos aqui perante uma idiotice estúpida (passo o reforço da idéia). Não imagino como é que aquela personagem lida com os alunos quando eles falham mas tenho alguma curiosidade em saber.
Na II Taça Kaizen que se registou no passado dia 13, apesar da maioria dos meus alunos participantes ter tido sucesso, outros não o tiveram... é normal, para nós mas para eles... terrível. Um dos meus alunos que foi eliminado muito rapidamente desatou a chorar porque se viu como um fracassado especialmente porque é um dos mais graduados do grupo e ficou "atrás dos menos graduados". Tentei tanto quanto possível minimizar a importância do acontecimento dizendo-lhe que não é nenhuma vergonha perder e que vergonha é não tentar, mas confesso que o argumento é pouco convincente para a mente de uma criança. É, no entanto, importante que eles aprendam a lidar com as próprias falhas porque, como é sabido, elas vão acompanhá-lo por toda a vida em todos os aspectos dessa vida.
Dividi com eles a "culpa" no fracasso dizendo-lhes que iríamos trabalhar mais para "limar as falhas" tentando tanto quanto possível a melhor aceitação pelo insucesso mas percebo a dificuldade que têm em aceitar que falharam. Os pais têm um papel importante nessa parte das suas vidas mas infelizmente, muitos tendem a levar mais a peito as falhas dos filhos do que eles próprios, questionando até algumas decisões de arbitragem e culpando a organização e todos os outros intervenientes pelo insucesso dos filhos.
Em ultima análise reconheço que esta é uma das dificuldades com que todos os treinadores têm de lidar embora todos possamos ter experiências diferentes. A psicologia terá, se calhar, alguma coisa a dizer neste sentido mas como já referi anteriormente... essa não é a minha área.
2 comentários:
E deois temos "miudos" com 20 e tal anos a manifestarem-se na rua, porque a sua primeira desilusão foi não ter arranjado emprego na área que estudaram.
1º ponto - o anónimo anterior confunde duas situações que em nada estão relacionadas!
2º ponto - não é só para o insucesso que temos de preparar as crianças, mas principalmente temos que as preparar para o sucesso - até porque quanto mais alto se sobe maior é o tombo.
3º ponto - antes de se ir para a competição há que precaver este tipo de situações. Eu também tive um aluno a chorar por "não ter uma medalha das grandes" o que não é sinónimo de ter tido insucesso!
4º ponto - o sucesso só existe porque há insucesso - mas o contrário também é verdadeiro.
5º ponto - «é um dos mais graduados do grupo e ficou "atrás dos menos graduados"» - talvez resida aqui o cerne da questão: mais graduado não significa melhor competidor. Ou talvez resida aqui um dos problemas do Karaté: já repararam que na Ginástica não há graduações?
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