sábado, 21 de novembro de 2009

Igualdade na diferença...

O Sensei Chojun Miyagi criou um estilo com raízes profundas, que perdurou no tempo, evoluindo e cativando milhares de praticantes em todo Mundo. Não existe consenso sobre quem é ou foi o verdadeiro "herdeiro" do estilo nem isso tem importância para esta reflexão. O que interessa é que se formaram várias Associações de Estilo. Se perguntarem a qualquer praticante de Goju-Ryu sobre a "tradicionalidade" (perdoem-me o termo) da sua escola ele dirá que a sua escola é a mais tradicional e próxima do Goju original, no entanto existem várias escolas Goju com características comuns mas diferenças consideráveis (já vi algumas até em que não consegui identificar os katas à primeira). Entretanto cada um fechou-se no seu Dojo (ou Associação) e ensinou o "verdadeiro" Goju-Ryu não permitindo "misturas".

Sempre fui um adepto da aquisição plena de conhecimentos. Já participei em Estágios de outros estilos e até de outras artes - de todos sempre consegui aprender qualquer coisa. Abriu-me os olhos para as virtudes e fragilidades do nosso Estilo. A diversidade de conceitos e opiniões é benéfica porque nos obriga a reflectir sobe as nossas "verdades" e a questioná-las. Nesta fase da minha vida, depois de passar por algumas revelações e decepções, abri a minha mente e estou a perceber que a riqueza do mundo das Artes Marciais reside exactamente na diversidade.

Participei muito recentemente num grande Estágio de Goju-Ryu com um grande mestre, o Sensei Onaga. Foi um Estágio com muita qualidade onde a partilha de conhecimentos entre TRÊS Associações foi a nota máxima. Sem ninguém ter de abdicar das suas "origens" falámos e mostrámos como se faz na nossa escola e aprendemos como se faz nas outras escolas. Todos ficámos a ganhar.

Já contei várias vezes esta história mas ão resisto a contá-la de novo. Um dia, ao saber através de um irmão que reside no Luxemburgo (praticante de Shotokan) de um Estágio com o falecido Sensei Taiji Kase, resolvi participar. Aproveitava a visita ao meu irmão e juntava-lhe o prazer de participar num estágio de karate. Os meus conhecimentos de Shotokan são reduzidos e a minha curiosidade sobre o estilo entusiasmava-me. Há muito que conhecia a reputação do Sensei Kase e, embora sabendo-o debilitado devido a um AVC, continuava a orientar Estágios de grande qualidade. Lá fui. Cheguei ao Luxemburgo e fui, pelo meu irmão, apresentado ao seu Instrutor, Sensei Peter. Fui acolhido com uma enorme simpatia e espanto por ser um praticante de Goju Ryu a vir de longe para participar num estágio de outro estilo. Os "Shotos" luxemburgueses carregaram-me de perguntas sobre o nosso estilo - o que era o kakie? como se executava correctamente o nosso Sanchin Dachi, quais os benefícios do Ude Tanden, etc.
Estivemos horas à conversa trocando esperiências, anotando conceitos, percebendo diferenças. No final, foi uma partilha excepcional. O Sensei Kase deu-nos um Estágio excelente e, embora um quanto perdido na altura dos Katas, lá fui desempenhando "serviço". Foi muito bom. Embora sendo um "outsider" fui recebido com a maior das simpatias e o maior respeito. Ninguém me impôs "verdadeiros karatés" nem eu lá fui para isso - treinei, aprendi, diverti-me e fiquei com vontade de lá voltar.

Em Portugal, a convite do Sensei Morais Pina, participei num Estágio com o Sensei Yamada, na altura treinador da equipa de Itália (se não me engano). Foi um dos melhores estágios em que participei. O Sensei Yamada ficou satisfeitíssimo de nos ver lá e sempre que explicava uma técnica Shito, chamava um de nós para exemplificarmos como se faz na escola Goju. Não é isto saudável? Não ganhamos todos com este tipo de trabalho?

Aconselho vivamente a todos os karatekas a participação no maior numero de estágios que puderem. Não se excluam pelo facto de não ser o vosso estilo ou a vossa arte. E principalmente não se excluam porque, sendo do vosso estilo, é OUTRA ESCOLA! Participem sim! aprendam com os outros e reflictam sobre as "vossas verdades".

3 comentários:

Rui Valadas disse...

Grande verdade, sensei. Não é só no nosso dojo que aprendemos mas sim fora dele. Ao ver outros estilos ou até mesmo outras associações do mesmo estilo dá para ver umas quantas diferenças e aprendermos com isso. Como o próprio Sensei diz, é isto que faz enriquecer o Karaté, caso contrário seria uma coisa estática. Há que participar em mais estágios da mesma envergadura que o do Sensei Onaga.

Cumprimentos,
Rui Valadas

Jorge Peixoto disse...

Finalmente alguém que reconhece que o "meu" estilo ainda pode ter futuro. Só lamento que no meio de tantas referências a Estágios se tenham esquecido do que eu ministrei o ano passado no Cartaxo. A Rádio Comercial tem os "concertos mais pequenos do mundo", nós tivémos "o treino mais pequeno do Mundo"...convém não esquecer.
Piadas à parte, concordo a 100% com o que foi dito e penso que apenas temos a aprender com os outros, temos é de ter os olhinhos bem abertos.

Armando Inocentes disse...

Recordo-me daquelas fotos dos anos 30 onde se vê Funakoshi ao lado de Myiagi, onde de vê Mabuni ao lado de Funakoshi e onde se pode ainda ver Myiagi ao lado de Mabuni...

Antigamente, os grandes Mestres, trabalhavam em conjunto, trocavam ideias, cooperavam, apesar de cada um ter a sua própria interpretação...

Há sempre três interpretações: a nossa, a do outro e a verdadeira!

Continuemos pois a trocar impressões e a trabalhar em conjunto.

Grande abraço aos meus amigos da Kaizen

Armando Inocentes

HOSHIN-DO PORTUGAL

HOSHIN-DO PORTUGAL
CLUBE DE KARATÉ E DEFESA PESSOAL

HOSHINDO PORTUGAL

O Hoshin-Do Portugal - Clube de Karaté e Defesa Pessoal, foi criado com a finalidade de promover a prática do Karaté Goju-Ryu e da sua vertente de Defesa Pessoal.
Tem a sua sede na
Rua do Amor Perfeito, Nº 23 - 2745-717 Massamá
Os seus Instrutores são:

José Ramalho - 4º Dan
Nuno Santos - 4º Dan
Rui Catarrinha - 3º Dan
Joana Perdiz - 2º Dan