terça-feira, 3 de agosto de 2010

A Arte de ensinar...

Quando comecei a dar aulas de karaté, em conjunto com a Carla Miranda na "Casa de Os Belenenses de Queluz, tive algumas dúvidas sobre o meu sucesso nessa nova tarefa. As "qualificações" que tinha eram apenas o meu Shodan (1º Dan) e nenhuma experiência de ensino. A Carla manifestava os mesmos receios mas, mesmo assim, lá começámos o trabalho. Os alunos começaram a aparecer e, rapidamente tínhamos a "casa cheia". Lidar com pessoas de várias idades e ensinar-lhes aquilo que tinha acabado de aprender era obra! Nenhuma formação pedagógica nem psicológica e muito pouca formação sobre o mais básico da Educação Física, mas muito boa vontade. Aos poucos comecei a ler sobre o assunto e a tentar aprender a ensinar. Cedo percebi que precisava de me "formar" porque estava a lidar com "matéria prima" frágil e sensível e que, os erros poderiam ser de alguma gravidade. A minha maior preocupação na altura era a prevenção de acidentes que pudessem pôr em risco a saúde e a integridade física dos karatekas, especialmente das crianças. Tudo o que conseguia ler sobre o assunto era pouco. Formação académica na área, não tinha. Apenas podia contar com a experiência de treino o que, convenhamos, era muito pouco. Depressa comecei a gostar de ensinar e depressa percebi que, a ensinar eu aprendia... muito. Comecei a perceber um pouco como funciona a mente das crianças e os exercícios que lhes dava prazer sem os sobrecarregar. Comecei a perceber que o stress é também comum nas crianças e que, muitas vezes, quando chegavam aos treinos iam já tão cansados que não tinham vontade de fazer nada. Ao perceber isto aprendi que não vale a pena insistir em treinos muito técnicos porque não obtinha feed back. comecei a introduzir os jogos que promoviam a dinâmica do movimento e a tentar relacionar esta dinâmica com os movimentos do karaté mas de forma divertida e descontraída. E aprendi com isto. Fiz alguma formação (não tanta como desejava) e tentei aprender com quem realmente sabia. Construí uma classe que me dá muito prazer treinar e da qual me orgulho. Ao ter alunos que comigo começaram a aprender, também eles manifestaram o interesse em ajudar a ensinar. Hoje, disponho de um grupo de graduados que são uma peça chave no sucesso da classe. O simples facto de um novo aluno que entra para a classe ser acolhido de braços abertos por todos - cintos negros, castanhos e todos os outros - e ajudado a passar a fase inicial (lembram-se?) de sermos cintos brancos no meio de um grupo de graduados, faz a diferença. Gosto de ensinar karate e gosto de aprender karate. Tenho, ao longo de minha vida, investido em tempo e dinheiro na minha própria formação e continuarei a fazê-lo... porque gosto... porque adoro ensinar karaté. Tenho alunos hoje homens e mulheres, que comigo começaram ainda crianças. Tenho-lhes uma afeição enorme e quero acreditar que, de alguma forma, terei contribuído para a sua formação. Muitos alunos entram e muitos saem... é normal. Aqueles que ficam são mais que alunos, são amigos de uma vida. Passo com eles grande parte da minha vida, como é que não poderiam fazer parte dela?
Acredito que um instrutor (treinador) de karaté pode e deve ser mais do que isso. Faço questão de introduzir no programa de treinos de karaté actividades educativas que os irão enriquecer bem como a mim próprio.
Acredito na formação do instrutor e penso ser uma peça chave no desempenho da sua actividade. Acredito que podemos fazer um bom trabalho na educação dos jovens e na sua formação tanto desportiva como pessoal e intelectual, é aliás na minha opinião, a nossa obrigação enquanto formadores. Reconheço que hoje, fruto da formação que adquiri, sou melhor treinador do que já fui porque disponho de informação que não tinha quando comecei.
O meu desejo é poder continuar a dar aulas sempre. O karaté proporcionou-me um grupo enorme de amigos entre alunos, familiares, outros instrutores e seus alunos e isso não tem preço. Sou certamente hoje uma pessoa diferente do que seria se não tivesse o privilégio de privar com pessoas excepcionais com as quais partilho o pouco que sei - não há nada de melhor, acreditem!

3 comentários:

Armando Inocentes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Armando Inocentes disse...

Caro amigo José Ramalho:

Mais uma vez tenho de te felicitar pelo teu post.

Do mesmo quero respingar algo:

A primeira, "depressa percebi que, a ensinar eu aprendia... muito." - a Pedagogia de facto também nos dá aprendizagem! Parabéns pelo teu espírito aberto... e porque também eu continuo a aprender contigo (até hoje aprendi ao ler o que escreveste!).

A segunda é essencialmente a palavra "acredito" que aplicas em várias frases - como disse o poeta, "o sonho comanda a vida" e ainda bem que continuamos a sonhar e a acreditar.

A terceira "aqueles que ficam são mais que alunos, são amigos de uma vida" - a amizade e a solidariedade são dos sentimentos mais nobres que podem existir entre aquele que ensina e aquele que aprende de modo que a relação professor/aluno ou treinador/praticante se transforma mais numa relação humana que numa relação pedagógica.

Por último, quero dizer-te que ao ler o teu post penso que valeu a pena todas as vezes que passei por aquela farmácia na Amadora...

Um grande abraço deste teu amigo!

Jorge Peixoto disse...

É muito importante que ao olharmos para o Sensei, vejamos algo mais. No meu caso, vejo um verdadeiro amigo de longa data. Gostava que todos tivessem a sorte que nós temos...
Um abraço,

HOSHIN-DO PORTUGAL

HOSHIN-DO PORTUGAL
CLUBE DE KARATÉ E DEFESA PESSOAL

HOSHINDO PORTUGAL

O Hoshin-Do Portugal - Clube de Karaté e Defesa Pessoal, foi criado com a finalidade de promover a prática do Karaté Goju-Ryu e da sua vertente de Defesa Pessoal.
Tem a sua sede na
Rua do Amor Perfeito, Nº 23 - 2745-717 Massamá
Os seus Instrutores são:

José Ramalho - 4º Dan
Nuno Santos - 4º Dan
Rui Catarrinha - 3º Dan
Joana Perdiz - 2º Dan